31/05/2011

Chora, viola quebrada...





O teu choro nas madrugadas, viola,

É ensurdecedor.
Por que choras, viola quebrada?
O teu chapéu e tua bebida estão ao teu lado.


Toca uma canção de lamento,
Exorciza-te de teu fracasso.


Suas cordas quebradas, estridentes
Lembram choro triste a ranger dentes,
Em madrugadas sem fim.


Chora viola quebrada, chora
Que teu choro vem em canção.

Chora o que lhe é de direito,
Chora esta canção de saudade
Que brota em teu peito.


Chora mágoas de mil vidas
Numa só.
Chora as tristezas que não cantaste,
O talento que não dividiste,
Chore uma canção para romper madrugada afora,

Chora viola!

Às 03h47 , madrugada de 31/05/11

Imagem emprestada daqui

26/05/2011

Vai tua vida, pássaro livre...




Foste embora.

Vestida de mágoa e culpas,
Sufocada de cobranças e dúvidas
A vida não estava fácil.

Escolheste o caminho mais difícil.
Com sede de liberdade te prendes ainda mais.
Vendes-te..., dá de si à estranhos por acha-los merecedores
De tua atenção, teu empenho.

Renuncias a tua casa para andar sem certezas,
Viver sem o conforto da convenção moral de moradia.
Foste para longe, atendeste à angústia ha anos sem respostas.

Preferes a solidão de uma vida atribulada às queixas  que vem dos que te querem. Mentiras e verdades se misturam num turbilhão de perguntas sem fim.

Vá em busca da liberdade que há em ti. Persiga-a com garra;
Encontra tua vida lá fora, longe daqui; segue o desejo do teu coração. Realize-se, encontre-se fora de ti.

Tente descobrir em quantas gaiolas um pássaro precisa se prender para entender o que é a liberdade; decifre seus enigmas e voe, voe alto, voe longe, encontre a sua paz no topo de uma colina, no vazio da solidão, nas dores diárias da vida.
Voa livre, pássaro incompreendido. Esqueça o seu regaço aqui, tumultuado de perguntas e saudades.

Imagem emprestada daqui



12/05/2011

Agua para elefantes




A vida de uma pessoa pode dar muitas voltas. Tantas a ponto de nos roubar a noção de direção dantes aprendida e planejada. Isso acontece de forma imponente no filme Agua para Elefantes.



Certa noite um velhinho foi encontrado próximo a um circo, frustrado e molhado na chuva. Perdera o espetáculo. Em compensação ganhou a oportunidade de contar a sua história. E que belo enredo ele vivera! Sua própria vida teria sido um espetáculo digno de muitos aplausos.



O filme mostra a saga de um jovem que um dia recebe a notícia de que perdera as razões que o mantinha de pé. Levado pela primeira oportunidade enfrentou a vida, sofreu como a um escravo, duelou com patão, escapou da morte, mexeu com estrumes, etc.  Graças a um animal enorme e dócil, encontrou um motivo pra viver. Um amor complicado, mas que dera a ele coragem e sonhos de uma nova vida.



A música e as imagens são espetaculares. Destaque para os diálogos em que o personagem vai contando a estória. Reflexões de quem realmente aprendera muito com a vida.

Imagem capturada aqui

06/05/2011

Um amigo, dois girassóis e um grande pintor




Assistindo ao filme sobre a vida do pintor Vincent van Gogh, entre outras sensações me veio a lembrança de como conheci o amigo que me fez conhecer um pouco de sua obra, há cerca de 6 anos. Estória que narro abaixo.

Quando eu o conheci, me surpreendi. Ele falava comigo através de desenhos. Nunca alguém falara comigo daquela maneira.

No silencio e quietude daquela “sala de aula” nossos diálogos imaginários (sim, porque só as imagens trocadas é que falavam por nós), duraram até ganharmos ânimo para oralidades.

Meu encanto e espanto foram maiores quando o moço dos desenhos disse que eu também poderia entender daquela linguagem, que eu tinha traquejos e mais: que tentaria ajudar com as primeiras palavras, digo: os primeiros traços.

Entre canecas de suco de uva, papéis, lápis 6B e fones de ouvido, os riscos traçavam contornos para caminhos novos a serem trilhados. Daí a amizade e cumplicidade surgiam como resultado dessa troca. Sim, pois o “mestre” dizia aprender com o pupilo.

Depois de um tempo tive contato com aquarelas e tinta acrílica, que entre outras coisas, me fez pintar um girassol, depois outro. 
Certa vez me enchi de coragem, peguei os dois girassóis que havia pintado e os levei para mostrar ao amigo das imagens. Ele me fez acreditar que aquilo era real, mostrou-me as pinturas de Van Gogh, o mestre dos girassóis. Apaixonei-me.

Por causa do meu feito, acabei ganhando um apelido, que fica guardado até hoje, escrito como dedicatória de um livro que esse amigo me trouxera de longe. Os girassóis, que estavam bem guardados se exibem agora na foto que inicia esse post.



03/05/2011

A casa onde eu moro





Da janela deste sexto andar, de onde vejo uma infinidade de outras janelas me pego com vontade de rever os últimos 30 dias. Tanta coisa aconteceu e, às vezes, tudo me parece estar no mesmo lugar. Mas as emoções, os sentimentos se movimentam numa velocidade que nem consigo acompanhar, a pé.

Sinto irmãos e parentes me tratando como se não tivera crescido. Diante deles ainda me percebo o menino que saiu de casa e que a mãe espera todos os dias que retorne. Porque lugar de filho solteiro é em casa de mãe. Só sai em definitivo quando se casa. Isso parece tão verossímil que um irmão recém-separado volta pra casa e retoma seu lugar de onde havia parado sem nenhum estranhamento. Já eu me sinto um estranho no ninho.

Reconheço-me cada vez mais intolerante aos assuntos maçantes, rasos, moralistas, enfadonhos e sem graça que permeiam nas tais reuniões familiares, onde ‘os mais velhos’ se sentam num pedestal e vomitam suas pérolas de sabedoria.

Cada vez que retorno à cidade onde cresci, sinto como se estivesse fazendo uma viagem a um futuro muito distante. Não reconheço os rostos, não me reconheço. Sempre me pergunto a onde foram as emoções que me faziam acreditar que ali eu poderia ser feliz; que era o lugar dos sonhos, das brincadeiras, das corridas no pasto tirando as roupas antes de chegar à represa. A vida era simples e parecia completa. Mas isso foi passado. Parece até outra vida. Nessa vida, nada me atrai naquele lugar.

Onde é o meu lugar? Ainda não sei. A cidade/casa que eu preciso ainda vem sendo construída, dentro de mim; com janelas brancas cheias de flores penduradas de onde se possa ter uma visão de mundo e da vida com cores que se adaptem às emoções necessárias para que as coisas sejam vividas em sua plenitude, sem cortes e sem deixar pra depois. Por enquanto me aproprio do poeta pra dizer que meus pensamentos tem sido minha casa, seja onde for, “a casa onde eu sempre morei.”

Imagem pescada aqui