22/11/2011

Reflexões e uma definição

“... cada vez mais estou me afastando do povo, e não é por antipatia, nem nada;
é por afinidade divergente.

...os grandes são simples. Não são leitores de grandes obras como Guerra e Paz, por exemplo.

...mas eu te sinto mais como aquele mineirim-goiano quieto, que a hora que abrir a boca vem UM TROVÃO! tipo isso."

*Trechos retirados da conversa legal (e virtual) que tive com um amigo

16/11/2011

Sobre sonhos e os encontros no caminho


No meu sonho, de madrugada, vejo uma mulher forte, porém de aparência cansada. Uma mulher que se equilibra sob o peso dos dias infinitos a espera de alguém que não chega.

A mulher que me cega com seu olhar, parece me conhecer bem mais do que eu a mim mesmo. Parece saber melhor que eu o motivo de passar repetidas vezes por aquele lugar.

Mesmo na sua infinita solidão, ela parece deter a verdade das minhas andanças e o porquê de tanto eu errar nas proximidades onde a sua vista alcança.

A mulher do meu sonho prepara, todos o finais de tarde, os seu melhor banquete e fica à espreita, como os pratos sobre a mesa da varanda, em silêncio.

Em sonho, reparo pelo caminho, esta mulher solitária, numa casa grande que parece pertencer a uma grande e milenar propriedade, já cansada de suas esperas.

Com a sensação de passar por mil vezes pelos mesmos caminhos e nada saber dali, de repente vejo a mulher se levantar e pedir para que eu entre e lhe prepare um café.

Acordo e vejo que já é madrugada, quase de manhã, com as perguntas que sei, não deixarão que eu volte ao sono: quem era aquela mulher dos meus caminhos...?
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15/11/2011

O peso dos dias



Com o passar do tempo tenho sentindo as pernas cansadas, assim como as costas. Todo o corpo às vezes, me parece um fardo insuportável. Em muitas vezes, me vejo um Sísifo, condenado aos afazeres cotidianos, tentando ser criativo em monotonias intermináveis.

Me pego repetindo receitas, copiando falas, ensaiando discursos, tentando me manter de pé em meio a um mundo que a cada dia parece mais assustador e cruel. O medo cultuado e temido carece cada dia mais da minha devoção, minha obediência.  Em troca, recebo falsas promessas de segurança, por não ousar nenhuma transgressão.

Temo estar correndo de mim. Tanta coisa me aconteceu que nem sei onde adquiri os medos que tanto me assombram. Percebo-me fugitivo das certezas, do espírito aventureiro da ousadia, da segurança dos passos dados e das decisões a serem tomadas. Vivo partido em metades; estou sempre em débito com algum fantasma, alguma entidade habitante num mundo subconsciente que criei.

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14/11/2011

Cheiro de lembranças



O cheiro que agora sinto são fragmentos seus.
Pequenas gotas da sua leveza,
Do desprendimento e bondade que lhe são naturais.

Rastros seus ficaram no meu travesseiro para me dar um pouquinho mais da tua companhia.
São gotas que te fazem presente em lembranças.

Esta noite, remediarei a tua falta no que me sobrou de sua presença amável.
Abraçarei o travesseiro banhado no suor do teu cheiro suave e me cobrirei com os lençóis que na ultima noite foram seus.
Dormirei agradecido de seus gestos, afagos e mimos para comigo.
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25/10/2011

Uma prece ao silêncio


Que a quietude da noite me traga paz, uma paz ainda que inquieta, altiva;

Que a inércia de todo um dia em silêncio suba aos céus como um louvor, adoração;


Que este meu louvor, que é sacrifício, me seja recompensado com algum ato criativo;

E que um dia inteiro mergulhado em silêncios sirva como redenção às minhas emoções tão banalizadas em falatórios e auto exposições numa vida inteira... 
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22/10/2011

Óperas de porão



Meus espetáculos,
Nunca apresentados
Não passam de infindáveis
E cansativos ensaios
Em madrugadas
Em que acordo,
Assombrado por espíritos
Que teimam em aparecer nos palcos em que minha Alma é sempre o personagem principal
Da ópera que componho com toda eloquência roubada dos meus silêncios mais ocultos, 
Onde sou sempre o melhor drama em cartaz 
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15/10/2011

Manhã de um sábado apressado


Cedo acordei, tardei, pensei, relutei...
Sem sono, sem rumo, nem rima
Perdido, matuto, afoito, arredio

Matutadas investidas,
O pensamento vagante
E o corpo pede o levante

Canecas de café na cozinha,
A música que chega de mansinho,
Os olhos na contramão, se abrem devagarinho

11/10/2011

Vejo flores


Tenho visto flores pela rua afora
  
    É a natureza a me enfeitiçar, com tanta beleza.

Vi o outono se antecipando à primavera, dando vez à delicadeza das cores e cheiros de mil amores.

Ando todo o tempo embelezado de flores, de sabores, odores, que são amores... 

 Fotos: Agno Santos

06/10/2011

Sangria


O peito sangra dores de mil vidas
Das vidas vividas, das vidas partidas
Vidas doídas, divididas, mal vividas...
Chora as vidas sonhadas, não vindas,
Sabotadas, despercebidas, incompreendidas.


05/10/2011

Ser corpo

"Guardo em mim metáforas insólitas,
Meus pés falam, e ouvidos querem ver.
Guardo em mim a ruptura absurda de ter
Um pensar triste e uma vontade solitária.


Asa e raiz de um sonho pouco ambicioso,
Um triste cheio de riso, uma trinca temerária.
Um viajante no vai-e-vem..."

Palavras(surrupiadas) de Ricardo Gondim

14/09/2011

Nostalgia de brincadeiras de rua



Ao abrir a porta, hoje pela manhã, me deparei com o tempo nublado, “tempo bonito”, como alguns dizem. Um clima um pouco mais ameno, quase que clamando por chuva. Verdade é que um pouquinho mais tarde, senti um tímido chuvisco nos ombros, eta coisa boa. Estamos todos com saudade de chuvas por aqui. Sim, existe algo de lírico nesses dias cinza que me encanta. Parece me deixar mais leve, calmo. 


Percorrendo o trajeto costumeiro em direção ao trabalho me deparei com uma cena que me roubou a atenção.  Afinal, não é todo dia que a gente se depara com crianças jogando “bete”(alguns chamam de ‘taco’) na calçada num território metropolitano. Ao menos pra mim soa inesperado.


A brincadeira é assim: demarcam-se entre um espaço dois círculos onde os integrantes ficam na frente de uma lata de óleo, segurando o bastão, tentando proteger a lata e bater na bola com a força que conseguir, os outros dois ficam tentando acertar a lata com a bola....no decorrer do jogo os pares trocam de lugar e por aí vai.


Bastou ver isso e a nostalgia tomou logo conta de mim. Fui levado a um território cheio de lembranças, com brincadeiras esportivas, que integravam a todos. Eram tantas essas brincadeiras, tanta gente se juntava por horas ali na rua, num terreno baldio, numa quadra de esporte, enfim. Só saíamos quando bem cansados ou quando já à noitinha, nossa mãe nos chamava por mais de uma vez.


Hoje vejo crianças que passam o tempo presas em apartamentos, cercadas de jogos eletrônicos, computadores, celulares, tecnologias de toda espécie. Dizem por aí que esses brinquedos estimulam as crianças. Tá. Mas isso tem um preço. Esses brinquedos também deixam as crianças obesas, preguiçosas, antissociais, deprimidas. E vejo isso nos meus próprios sobrinhos, que muitas vezes recebem a comida no prato, enquanto vencem uma partida no videogame.  Às vezes, nem sabem o que estão comendo. Jogam o prato por ali e continuam o jogo.


Entendo que os tempos mudaram. E até gosto de muitas dessas mudanças. Mas algumas coisas nunca deviam ser substituídas, como a alegria de gritar gol e arrancar a camisa toda suada num jogo de futebol; a satisfação de poder fabricar um brinquedo com as próprias mãos; brincar com terra de vez em quando; tomar banho de rio....e a lista seria imensa.


Essas brincadeiras, além de prazer e integração têm o seu lado pedagógico: ensina a obedecer a regras, alcançar metas, respeitar o espaço do outro, a viver em grupo, encarar perdas e ganhos... e essa  lista de vantagens também seria infinita. Ao menos pra mim fez muito bem. E algumas dessas brincadeiras eu não trocaria por nenhum desses brinquedos tecnológicos de hoje, de verdade.


Por mais que as coisas mudem com o tempo, sempre que vir alguém brincando na rua, descalço a correr, a soltar pipas, correndo com carrinho de rolimã e outras tantas, a saudade de menino virá me visitar.

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13/09/2011

Um lugar...


“...pensando nos lugares paradisíacos onde já estive, e que não me custaria nada reprisar: num determinado restaurante de uma ilha grega, na beira de diversas praias do Brasil, na casa de bons amigos, em algum vilarejo europeu, numa estrada bela e vazia, no meio de um show espetacular, numa sala de cinema vendo a estreia de um filme muito esperado e, principalmente, na minha casa, no meu quarto e na minha cama, que nenhum hotel cinco estrelas consegue superar – a intimidade da gente é irreproduzível.

Em contrapartida, odiaria estar num leito de hospital, numa fila de banco, numa reunião de condomínio, presa num elevador, em meio a um trânsito congestionado, numa cadeira de dentista.

E então? Somando os prós e os contras, as boas e más opções, onde, afinal, é o melhor lugar do mundo?

Dentro de um abraço.

Que lugar melhor para uma criança, para um idoso, para uma mulher apaixonada, para um adolescente com medo, para um doente, para alguém solitário? Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro. Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios. Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.

Que lugar melhor para um recém-nascido, para um recém-chegado, para um recém-demitido, para um recém-contratado? Dentro de um abraço nenhuma situação é incerta, o futuro não amedronta, estacionamos confortavelmente em meio ao paraíso.

O rosto contra o peito de quem te abraça, as batidas do coração dele e as suas, o silêncio que sempre se faz durante esse envolvimento físico: nada há para se reivindicar ou agradecer, dentro de um abraço voz nenhuma se faz necessária, está tudo dito.

Que lugar no mundo é melhor para se estar? Na frente de uma lareira com um livro estupendo, em meio a um estádio lotado vendo seu time golear, num almoço em família onde todos estão se divertindo, num final de tarde de frente para o mar, deitado num parque olhando para o céu, na cama com a pessoa que você mais ama?

Difícil bater essa última alternativa, mas aonde começa o amor, senão dentro do primeiro abraço? Alguns o consideram como algo sufocante, querem logo se desvencilhar dele. Até entendo que há momentos em que é preciso estar fora de alcance, livre de qualquer tentáculo. Esse desejo de se manter solto é legítimo, mas hoje me permita não endossar manifestações de alforria...o local mais aconchegante e naturalmente aquecido que há: dentro de um abraço que nos baste.”

Crônica de Martha Medeiros, do livro “Feliz por nada”
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30/08/2011

Meu encontro com Dona Maria




Era pra ser só mais uma noite de segunda. Desanimado com o calor desses dias, somado à descrença que tem me rodeado com alguma frequência, vinha brigando com meus botões. Cobrava de mim o empenho, a disposição e outras coisas que venho deixando pra trás...



Ao saltar do ônibus, fui abordado por uma moça perguntando sobre como fazer com que uma senhora bem idosa tomasse a condução correta para chegar ao seu destino, já havia se perdido no caminho uma vez. Comecei a cogitar a melhor opção e, quando percebi estava sozinho com aquela senhora. Ela tinha olhos aflitos.



Pensei e repensei e não consegui nenhuma solução que uma senhora de tão idosa poderia chegar sozinha. Descobri bem mais tarde que ela tem 75 anos. Então estava decidido: eu ia ter de leva-la ao ponto mais próximo. Ela titubeou, fez perguntas com cara de desconfiança e aceitou por não ter opção.



Pelo caminho, ela quis saber de mim. Com a eloquência de quem havia recebido muita informação na juventude, perguntou se sou professor, eu respondi que não. Mas ela insistiu dizendo que tenho cara de professor, que consegue ver um professor em mim. Expliquei que fiz licenciatura, pensei em dar aulas, mas acabei indo por outros caminhos.



Inconformada com minha desistência, tentando ser convincente, ela (assumindo o lugar do meu subconsciente), fez perguntas, argumentou, disse que eu devia lutar mais, que seria um excelente professor. “você teria muito a oferecer”, dizia ela sem ligar muito para as minhas réplicas. E durante todo o percurso falava quase sozinha tentando não se perder. Tentava se manter concentrada no raciocínio, sem muito sucesso.



A certa altura, me veio com uma pergunta, que eu logo respondi: “sim, aqui é o Araújo Jorge, o Hospital do Câncer.” Com semblante pesado, dona Maria me olhou nos olhos e disse que perdera o marido naquele hospital há 9 anos e alguns meses. Fiquei sem palavras. Ela se fez forte de novo, seguimos em frente.



Com dificuldade de organizar as informações, me contou que é natural de Carolina, Maranhão. Saíra de casa jovem para um convento. Queria servir a Deus. Ao encontrar tanta gente mandona, egoísta, “querendo ser Deus”, descobriu que a vida não correspondia mais às seus anseios. Eu ri baixinho. Uma coincidência e tanto!



Chegando ao nosso destino, apontei onde ela devia esperar, expliquei sobre o ônibus que devia tomar. Ela fez menção que entendera. Antes de sair, lembrei de oferecer um “sit pass”. Ela agradeceu, disse que aos 75 anos não precisa mais dessas coisas....



Fiz um gesto pra me despedir, quando dona Maria me tomou pelo braço, pedindo para esperar mais um pouco, precisava desabafar com alguém. Eram tantos os problemas, inclusive a queda que havia tomado. Fiquei ali escutando ainda mais. Ela tinha tanta reclamação a fazer: do governo, da síndica do prédio, dos filhos, noras, da justiça, etc. Eu não conseguia entender praticamente nada. As informações não se conectavam. Me esforcei pra ficar calado ali, só escutando. 



Depois de um tempo ela já parecia mais aliviada. Aproveitei para explicar mais uma vez sobre o ônibus, me ofereci pra embarca-la, ela se negou. Segurou a minha mão, agradeceu. Numa tentativa de me dar sua benção, desejou que alguém muito especial pudesse me fazer um bem maior ainda do que eu lhe havia feito. Amém, dona Maria!

Imagem emprestada daqui

30/07/2011

Ipê amarelo

Passando pelo centro de Goiânia, quase que não reparo nessa beleza. Fotografei esse ipê todo florido, com esse tom vívido de amarelo, disputando espaço em meio a tantos obstáculos visuais provocados pelo comércio na Avenida Anhaguera. 








Encontrei três árvores no total. A pressa, o sol escaldante e falta de espaço pra chegar não me deixaram fazer muitas fotos. compartilho aqui o melhor que consegui.

20/07/2011

Observações da vida urbana



Observação nº1

Ela senta ao meu lado, talvez agradecida por encontrar um lugar vago no ônibus da linha 021.

De dentro da bolsa saca um pequeno estojo de maquilagem e com a maestria de quem sempre faz tal coisa nessas condições, começa o trabalho artístico. Uma olhadela de lado e já dá pra perceber que os tons azulados estão entre os seus preferidos, já que estão bem gastos. 

No pequeno espelho fixa o olhar, como se ninguém estivesse por perto, confere o sucesso do seu trabalho, guarda os materiais de volta e aguarda a próxima parada.



Observação nº2

No vasto estacionamento do shopping ainda vazio, a garota leitora encontrou um lugar ao acaso. Sentou-se como se estivesse numa livraria, biblioteca ou coisa parecida.
A cena era de quem estava naquela parte do livro que não poderia ser adiada. Ela parecia aproveitar cada segundo com aquele livro antes do seu possível próximo compromisso. Coisa bonita de ver. Cena rara hoje em dia.