03/05/2011

A casa onde eu moro





Da janela deste sexto andar, de onde vejo uma infinidade de outras janelas me pego com vontade de rever os últimos 30 dias. Tanta coisa aconteceu e, às vezes, tudo me parece estar no mesmo lugar. Mas as emoções, os sentimentos se movimentam numa velocidade que nem consigo acompanhar, a pé.

Sinto irmãos e parentes me tratando como se não tivera crescido. Diante deles ainda me percebo o menino que saiu de casa e que a mãe espera todos os dias que retorne. Porque lugar de filho solteiro é em casa de mãe. Só sai em definitivo quando se casa. Isso parece tão verossímil que um irmão recém-separado volta pra casa e retoma seu lugar de onde havia parado sem nenhum estranhamento. Já eu me sinto um estranho no ninho.

Reconheço-me cada vez mais intolerante aos assuntos maçantes, rasos, moralistas, enfadonhos e sem graça que permeiam nas tais reuniões familiares, onde ‘os mais velhos’ se sentam num pedestal e vomitam suas pérolas de sabedoria.

Cada vez que retorno à cidade onde cresci, sinto como se estivesse fazendo uma viagem a um futuro muito distante. Não reconheço os rostos, não me reconheço. Sempre me pergunto a onde foram as emoções que me faziam acreditar que ali eu poderia ser feliz; que era o lugar dos sonhos, das brincadeiras, das corridas no pasto tirando as roupas antes de chegar à represa. A vida era simples e parecia completa. Mas isso foi passado. Parece até outra vida. Nessa vida, nada me atrai naquele lugar.

Onde é o meu lugar? Ainda não sei. A cidade/casa que eu preciso ainda vem sendo construída, dentro de mim; com janelas brancas cheias de flores penduradas de onde se possa ter uma visão de mundo e da vida com cores que se adaptem às emoções necessárias para que as coisas sejam vividas em sua plenitude, sem cortes e sem deixar pra depois. Por enquanto me aproprio do poeta pra dizer que meus pensamentos tem sido minha casa, seja onde for, “a casa onde eu sempre morei.”

Imagem pescada aqui


Um comentário:

  1. A casa, a nossa casa, é imperativo que nunca fique pronta. Seu projeto nos move, o desconforto por estarmos fora dela - onde quer que estejamos, ou que ela esteja - não deixa que nos acomodemos... É para ela que caminhamos, embora sequer saibamos seu lugar ao certo...

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