Sempre me vem à memória imagens daquela velha senhora, De rugas no rosto, lenço velho na cabeça, sentada ao rabo do fogão de lenha, a resmungar mágoas, contar as suas estórias.
Em noites frias ardia em dores. As dores da ferida mortal numa das pernas, que de tão podre a carne, exalava odores. Ela chorava, amaldiçoava aquela mulher que teria lhe rogado tal praga por causa do marido.
Tinha as superstições mais comuns e as mais bizarras que uma velha de cara ‘emborralhada’ de cinza poderia ter. E era só alguém mexer com ela que começava as respostas, as rezas, os xingamentos, etc.
Rejeitada pelos netos de sangue que dela tinham nojo e vergonha, nos adotou como seus netos postiços, com as vantagens e dificuldades todas que se adquire nesse papel.
Oferecia doces, boas estórias e causos bem interpretados como paga pela a atenção de seus expectadores, tudo isso para aliviar o peso da solidão e amenizar a dor ao menos quando o sol brilhava. A noite os gritos eram de alguém que aos poucos ia sendo comido pela tal ferida. E foi assim mesmo que um dia ela morreu.
Dona luzia me prestou o importante papel de vó, pois não conheci nenhuma das minhas avós de sangue. Cumpriu bem o seu papel com agrados, conselhos, broncas e tudo mais.
Muitas vezes, em pensamentos, me vem a imagem forte daquela velha sofrida, doída, que quando cantava rasgava o silencio da sua casinha escura ao lado da nossa. O canto triste, de tão eloquente, soava poético. Canção de quem se agarrava a ultima fagulha de vida, todos os dias. Dona Luzia queria viver a qualquer custo, mas a ferida não a perdoou.
Imagem emprestada daqui
Boa noite menino, nunca mais me esquecí quando li em seu perfil :Tenho sorrisos de menino e medos de adulto...
ResponderExcluirComo vai? Vim retribuir a visita e o lindo elogio la no CASA, muito obrigada viu, fico feliz em saber que mesmo postando menos,continuo agradando!
Parece que a avó postiça, Dna Luzia te marcou né?
Também não conhecí nenhum de meus avós e nem tive essa sorte sua de ter uma postiça...
Abraço menino e tenha um lindo fim de semana!
Valeria
Olha com aimagem de Dona Luzia, me veio a lembrança de uma Senhora Dona Raimunda, mulher guerreira que criou seus oitos filhos e uma dezena de neto... A pessoa mais bela que Deus me permitiu conhecer. Seu texto faz-me recordar tempos de outrora, no meu velho Tocantins, vida simples e sofrida, mais regada de muito amor de Dona Raimunda, minha avó... neste dia mórbido, nublado e com seu texto a saudade aumenta...
ResponderExcluirAgno, que belo texto sobre a velhice.. Me lembrei de minha avó, também a beira de um fogão de lenha, e outras tantas senhoras que enredadas na miséria de dias passados faziam futuro aninhando netos com suas estórias. Obrigada pela visita de hoje!
ResponderExcluirOi!
ResponderExcluirAdoravel! Pude ver a Dona Luzia ...ali no rabo do fogão. Me emocionou.
Bjs de admiração,
Lucinda Prado